A sedução é um dom: como o da poesia. Também tem muito a ver com a música. A pintura e a própria escultura, vêm depois.
A deusa da sedução, não é só Afrodite. Todas as demais dão a sua ajuda.
Cores predilectas da sedução: as do arco-iris.
A sedução continua sendo, mesmo em épocas democráticas, a única monarquia por direito divino.
Hierarquia dos quatro elementos do reino da sedução: a Terra, o Ar, o Fogo e a Água.
A sedução está para a rendição como a flor para o fruto. (Quando flor sem fruto!)
A sedução escreve a torto por linhas direitas.
A verdadeira sedutora sabe, por instinto, que o verbo «seduzir» não é forçosamente transitivo.
Não olha a meios a sedução: mesmo para alcançar nenhuns fins.
São insondáveis os desígnios da sedução. Outrora passava-se com galgos brancos pela trela. Hoje, basta-lhe sentir-se guiada por um tigre invisível.
Não é a tempo inteiro que se escreve a sedução. Nem em part-time. Vá lá saber-se como, quando e onde... (?)
A sedução não é uma "carreira". As "carreiristas" nunca são sedutoras.
O cogito da verdadeira sedutora: «seduzo, logo: existo».
O da falsa: «seduzo, logo: exijo».
Nem toda a que seduz é de oiro.
Há as que se crêem sedutoras, mas não passam de sedutrizes.
Só depois dos trinta e tal anos é que a sedutora atinge a sua plenitude. Antes, não confundir com metediça, atrevidota, descaradinha ou efervescente.
Sedentas, as sedutoras? Muitos mais as não sedutoras, as não seduzidas!
Sublime e gloriosa é a sedução quando alcança todo o seu esplendor num céu carregado de nuvens.
A sedução, ao contrário da natureza, procede ás vezes por súbitos saltos.
Não há sedução perfeita sem uma imponderável dose inocente de ferocidade.
A sedução depende muito mais do modo de olhar, que da forma ou a cor dos olhos; muito mais do ritmo dos gestos que do tamanho das unhas.
A voz da sedução oscila entre roucas inflexões de Outono e claros timbres de Primavera.
Uma sedutora nunca mente: omite ou imagina. E com firmeza e ânimo necessária para jamais admitir que omitiu ou imaginou.
Nos pulsos, nos joelhos, nos tornozelos, instalam-se, por vezes, as mais secretas sedes de sedução. Daí irradiam para outras zonas.
Impossível conceber a sedutora, sem um longo pescoço flexível, de sedutora.
Das improvisões da sedução é que é preciso ter medo: não de quando ela declama um papel já decorado. Quando submetida a exame, a sedutora, se genuína, mostra-se mais à vontade nas provas orais que nas provas escritas.
A sedução não se coaduna, em geral, com qualquer tipo de formação científica.
Não é indispensável que a sedutora tenha ideias muito precisas em matéria política.
Sedução é arte abstracta, sedução e música electrónica só em raros casos conseguem coabitar.
As sedutoras que se ignoram são quase sempre as mais temíveis.
Toda a força da sedutora reside nos seus pontos aparentemente fracos.
Só em momento adiantado da sedução será permitido à sedutora confessar o que prefere... Drambuie a champanhe francês.
As qualidades tácteis da sedutora apenas deverão afirmar-se depois de convenientemente postos á prova os seus outros quatro sentidos. O sexto, por sua vez, só indirectamente tem a ver com todos e cada um destes.
A sedução é uma planta carnívora. E não há memória de sedutoras vegetarianas.
A sedutora pode tornar-se perigosa quando se deixar seduzir.
Nem sempre a sedutora perdoa a quem pir ela foi seduzido.
Vendo bem, as sedutoras pertencem todas a uma só e grande família. Com problemas de família, óbviamente. Como em geral acontece nas grandes famílias que se prezam.
Timidez e audácia, em saborosas e em concientes proporções, podem fazer da sedução uma inexcedível obra-prima.
Na água se grava a assinatura da sedutora. E no vento se esculpe o seu brazão.
DAVID MOURÃO FERREIRA